quinta-feira, 29 de junho de 2017

Festival de Gnawa 2017 - Vigésima Edição

Abre-se uma janela para a Música Gnawa



      No Marrocos, existe uma tradição que possui uma música misteriosa e espiritual, que em um contexto intimista chama-se Derdba, ou Lila Gnawa, uma cerimônia de transe, animista sincretizada com o Islamismo... lembra o candomblé com seus Orixas. 
      Em diversas ocasiões a música Gnawa pode ser escutada e encontrada em lugares públicos . Em performances feitas nas ruas, os músicos tocam tambores bem graves e castanholas de ferro (os krakabs) energeticamente, equilibram e giram gorros em suas cabeças, o chachia, e dançam ao mesmo tempo com suas acrobacias incríveis. Esses músicos, os koyos, nessas situações, fazem a krima, uma louvação ao profeta Maomé para abençoar as pessoas, em praças públicas das grandes cidades. Pedem bênçãos, cura, em troco de moedas oferecem a baraka. A baraka é uma benção, vinda direta de Allah, transmitida por pessoas, elementos ou situações especiais. Nesse caso, no contexto guinawi, a música e seus cantos transmitem baraka, e o Mâalem (o Mestre), músicos e moqdems (lembram as mães e pais de santo do Brasil) são portadores e transmissores dessa energia. Essa abertura para o mundo do Gnawa, feito na rua, seria um dos meios de sobrevivência desses músico-terapêutas. Com o tempo, essa música sagrada tornou-se popular, e músicos  do mundo inteiro a celebram a cada ano em Essaouira.







     Em 2017 o Festival de Gnaoua et Musiques du Monde completa a sua vigésima edição. Realizado em Essaouira, no litoral do sul marroquino, esse festival acontece nos verões e propõe fusionar a música tradicional de Gnawa com Jazz, Soul, Rock e Músicas do Mundo (World Music). Já passaram por este festival artistas de renome como Salif Keita, Oumou Sangaré, Ayo, Rendy Weston, até os brasileiros Lenine e Carlos Malta e Pife Muderno. Segundo o Mestre gnawi Mustapha Bakbou de Marrakech “graças ao Festival Gnawa, o tagnaouite tornou-se uma música internacional, e um valor mundial lhe foi dado”. A globalização trouxe pontos de vista diferentes para a tradição Gnawa e sua popularização desperta uma discussão.  O Festival de Gnaoua et Musiques du Monde é um convite do gnawi feito ao mundo, mas o questionamento de muitos artistas é se está efetivamente lançando olhos para a verdadeira história desse povo e protegendo seus valores. Existem, nesse contexto, algumas associações que se formaram para protegerem a herança cultural do Gnawa. A mais significativa é a Yerma Gnawa – Associação para a Promoção e Difusão do Patrimônio Gnawa. Criada em 2009, essa associação é parceira de eventos culturais que envolvem o Gnawa. Um de seus pilares é a transcrição das letras do repertório de canções sagradas da Lila, e conta com o trabalho de antropólogos, e musicólogos. Essa associação possui como principal objetivo a classificação na UNESCO da tradição Gnawa como “Patrimônio oral e imaterial da humanidade”.

     
     Nesse ano, o Festival de Gnawa conta com a  participação de Carlinhos Brown que fusiona sua arte com os mestres Said e Mohamed Koyo. Também parcicipa o mestre de Marrakech Maalem Abdelkabir Marchane...
Bill Laurence, Ray Lema, Gnawa Diffusion, Maalem Mustapha Backbou, Mehdi Nassouli, Hindi Zahra, Maalem Omar Hayat, Houssam Guinia, Ze Luis Nascimento, entre muitos outros artitas da musica tradicional marroquina e do mundo. Nesse ambiente, o mix cultural é rico e cheio de cores!

Acesse o site do festival aqui:

http://festival-gnaoua.net/en/edition_20eme/